22.7.07

Os discos evangélicos mais estranhos de todos os tempos

Quando alguém fizer a lista dos discos mais bizarros de todos os tempos terá que incluir "Demônios que Choram - Espantosas Gravações de Demônos Falando Através das Pessoas Possuídas por Eles" (Crying Demons - Amazing Recordings of Demons Speaking Through People Who Are Possessed by Them). Só a capa já garante o posto:




O álbum é uma coleção das gravações dos exorcismos realizados pelo famoso pastor americano A. A. Allen nos anos de 1960. O disco de vinil é uma raridade (parece que a maior parte do estoque se queimou num incêndio em um depósito décadas atrás), mas o CD ainda pode ser comprado (US$ 9,90) através do site mantido pela família de Allen. Vale a pena. A julgar pela amostra grátis que é possível escutar em alguns sites o disco é tão trash quanto a capa.

Em um trecho por exemplo, ouvimos Allen expulsando um demônio de uma mulher em um ritual que lembra mais a negociação com uma criança mimada do que com um demônio das profundezas do inferno:

"Diabo, você vai sair.", comanda com autoridade o pastor
"Eu não vou a lugar nenhum...", responde sonolentamente o diabo.
"Você vai sair daí."
"Eu não vou a lugar nenhum..."
"Você vai sair daí."
"Não..."
"Você vai!"
"Não..."
"O que faz você pensar que não vai sair?"
"Eu não vou."
"Você vai sair sim!"
"Nãaaaaoooo, eu não tô te incomodando...", diz o diabo como uma criança birrenta cujo pai estivesse mandando para a cama muito cedo.
"Eu te expulso, em nome de Jesus!!", apela o pastor, já sem paciência.
"Eu não tô te incomodando...", insiste o Encosto, fingindo que não ouviu.

Infelizmente não dá pra saber como o exorcismo termina, mas pelo jeito alguns demônios precisam mais de uma super babá, daquelas dos reality shows da TV, do que de exorcistas para expulsá-los.

A.A. Allen foi um dos mais carismáticos e controversos pregadores da igreja Pentecostal (do mesmo ramo protestante das Igreja Universal e Assembléia de Deus no Brasil) nos anos de 1950 e 60. Se Jesus multiplicava peixes Allen multiplicava dólares. Não que isso seja estranho ao negócio das religiões; a diferença é que Allen dizia fazer isso literalmente: o pregador afirmava que Deus lhe dava o poder de transformar notas de 1 dólar em 20 (embora isso não diminuísse seu empenho em coletar dízimos; Allen afirmava que Deus tinha lhe garantido o poder de conferir uma benção especial para os que doassem 100.000 dólares para sua obra missionária). Por um breve período Allen manteve um programa de rádio chamado "Raise The Dead", onde afirmava poder ressuscitar os mortos, mas infelizmente o programa foi cancelado depois que os fiéis pararam de enterrar seus entes falecidos esperando que Allen os trouxesse de volta. Abaixo nós o vemos na capa de outro disco evangélico com lugar garantido na nossa lista: "Deus é um Assassino" (God is a Killer).



Os exorcismos de Allen também podem ser vistos em vídeo, caso você queira saber como eram as sessões de descarrego nos tempos da brilhantina (descontando os penteados, não muito diferentes dos atuais, adianto...).

Para que os fiéis de um culto protestante se comovam diante de espetáculos de exorcismo é preciso que eles acreditem que o diabo existe, em primeiro lugar. Aí entra o álbum seguinte na nossa lista dos discos evangélicos muito estranhos: "Satã é Real" (Satan is Real), da dupla The Louvin Brothers:



Tudo bem que o mau gosto intimide mais do que o capeta de papelão, mas as músicas até que não são ruins.

E finalmente, para completar nossa lista, vem o disco dos exorcistas que primeiro dão porrada e depois fazem perguntas: "O Pregador Faixa Preta" (Karatist Preacher -- acho que ficaria melhor assim em português), do instrumentista Mike Crain.



Este merece. Um pastor com franjinha estilo Monkeys que expulsa o demônio com golpes de karatê é algo que nem a dupla Quentin Tarantino-Robert Rodriguez teria imaginado.

Caso você queira montar sua própria lista, aqui e aqui há mais alguns candidatos.

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