Em uma galáxia muito, muito distante...
Foi na década de 70 que a ufologia começou a flertar com a espiritualidade. Em plena onda new age os alienígenas deixaram de ser vistos como ameaçadores homenzinhos verdes e começaram a ser retratados como seres iluminados muito preocupados com os problemas da humanidade. Sempre que podiam os extraterrestres tentavam nos alertar sobre nossos problemas mais preementes como a corrida armamentista ou a destruição das florestas. Teriam sido realmente úteis se tivessem nos avisado naquela época sobre a AIDS, o aquecimento global ou o buraco na camada de ozônio...
O cruzamento da espiritualidade com a ufologia gerou diversas seitas estranhas. A mais lembrada será sempre a seita Portal do Céu liderada por uma maluco que conseguiu convencer dezenas de pessoas a ir deste mundo para outro melhor de carona em um cometa, como se a vida fosse uma música do Balão Mágico. Mas no quesito extravagância há certamente espaço para a Igreja da Cientologia, criada pelo escritor de ficção científica mais traduzido em todo o planeta: L. Ron Hubbard, e frequentada por algumas das maiores estrelas de Hollywood como Tom Cruise e Jonh Travolta.
Segundo Hubbard, há 75 milhões de anos atrás um ditador alienígena chamado Xenu, que faria o Dart Vader parecer uma criança fantasiada para o Halloween, decidiu resolver o problema da superpopulação de seu planeta dopando bilhões de habitantes com uma mistura de alcóol e glicol, sequestrando-os e transportando-os em naves muito parecidas com aviões comerciais DC-8s até o planeta Teegeeack, conhecido por nós como Terra. Aqui chegando, os 13.5 bilhões de excluídos foram amontoados ao redor de vulcões e bombardeados com bombas de hidrogênio. Os corpos físicos dos extraterrestres foram destruídos, mas não suas almas, agora chamadas de Tethans, que foram coletadas por uma espécie de aspirador galáctico de almas e levadas para um colossal cinema, onde foram forçadas a assistir durante 36 dias a um filme tridimensional que lhes implantou falsas memórias à respeito de Deus, Jesus e o Diabo.
As pobres almas penadas, desencarnadas, e agora desmemoriadas, passaram então a vagar pela Terra reunindo-se em grupos de milhares e encarnando coletivamente aqui e acolá nos poucos corpos sobreviventes às explosões. Estes encostos grupais, conhecidos por Tethans corporais, estão por aí até hoje e, segundo os cientologistas, são os grandes responsáveis pelos problemas do homem moderno assim como por boa parte de nossas lembranças: Hubbard diz que nossos cinemas na verdade foram inconscientemente construídos à imagem e semelhança das salas de projeção utilizadas por Xenu na lavagem cerebral dos Tethans (é preciso reconhecer que poucas religiões têm respostas para questões tão específicas quanto a arquitetura das salas de cinema). Quanto a Xenu, os cientologistas acreditam que ele foi eventualmente derrotado pelas forças do bem e jaz aprisionado em uma montanha por um campo de força alimentado por uma bateria que dura para sempre.
Este Antigo Testamento cientológico você não vai encontrar no site oficial da Igreja da Cientologia. Os cientologistas somente têm contato com a história de Xenu quando atingem os mais altos níveis dentro da seita, em uma cerimônia secretíssima que acontece a bordo de um iate. Mas há alguns anos atrás a história vazou para a internet e daí para o Washington Post. A igreja reagiu e processou o jornal, não por falsidade ideológica, mas por violação de copyright, confirmando que a história era verdadeira.
Sempre que confrontados com a história de Xenu os cientologistas argumentam que seus ensinamentos foram tirados de contexto para fazê-los parecer rídiculos. Eu discordo. Se você pensar bem não há nada de especialmente ridículo na história de Xenu e dos Tethans, ou se há, outras religiões não parecem ter percebido. Eu poderia argumentar que a história de um ditador alienígena exterminando seu povo com armas de destruição em massa e submetendo-os à propaganda religiosa não é tão mais improvável que a maioria dos dogmas católicos, como a ascenção da virgem por exemplo. Mas tratando especificamente do cruzamento entre ficção científica e espiritualidade há exemplos tão extravagantes como os de Hubbard que vêm sendo divulgados há muito mais tempo sem um pingo de medo do rídiculo. E eu poderia nunca descobrir isso se, enquanto planejava este post, não tivesse me deparado com a seguinte manchete de capa da revista Universo Espírita deste mês:
Continuando, Emmanuel nos conta que estes espíritos inconvenientes em seu mundo porém muito mais evoluídos que os primitivos terrestres, encarnaram na população branca do nosso planeta, dando origem a quatro grupos: as castas da Índia, os arianos, os antigos egípcios e os hebreus, estes o povo mais evoluído de todos -- tanto que criaram a primeira religião monoteísta do mundo, explica a revista. Junto com os capelianos vieram a ciência, a religião, a filosofia e as artes, e também suas paixões pela guerra, seu egoísmo e orgulho. Estes espíritos evoluídos, e brancos, deram início a grandes transformações nas civilizações antigas, o que a revista chama de "salto evolutivo que a ciência não explica", e povoaram os continentes perdidos de Atlântida e Lemúria.
Ambas as religiões (embora a cientologia não seja considerada oficialmente uma religião em alguns países e o espiritas reneguem o rótulo na maioria das vezes) buscam o credenciamento da ciência. Mas ambas erram o alvo: a cientologia só consegue ser uma space opera ruim, roteiro imaginário de um filme que seria ainda pior que um dos piores filmes de todos os tempos: justamente "A Reconquista" baseado em um romance de Hubbard e estrelado pelo cientólogo John Travolta. Já o espiritismo procura uma vaguinha na ciência e só encontra lugar na pseudoarqueologia datada dos livros de Erich Von Däniken.
O cruzamento da espiritualidade com a ufologia gerou diversas seitas estranhas. A mais lembrada será sempre a seita Portal do Céu liderada por uma maluco que conseguiu convencer dezenas de pessoas a ir deste mundo para outro melhor de carona em um cometa, como se a vida fosse uma música do Balão Mágico. Mas no quesito extravagância há certamente espaço para a Igreja da Cientologia, criada pelo escritor de ficção científica mais traduzido em todo o planeta: L. Ron Hubbard, e frequentada por algumas das maiores estrelas de Hollywood como Tom Cruise e Jonh Travolta.
Segundo Hubbard, há 75 milhões de anos atrás um ditador alienígena chamado Xenu, que faria o Dart Vader parecer uma criança fantasiada para o Halloween, decidiu resolver o problema da superpopulação de seu planeta dopando bilhões de habitantes com uma mistura de alcóol e glicol, sequestrando-os e transportando-os em naves muito parecidas com aviões comerciais DC-8s até o planeta Teegeeack, conhecido por nós como Terra. Aqui chegando, os 13.5 bilhões de excluídos foram amontoados ao redor de vulcões e bombardeados com bombas de hidrogênio. Os corpos físicos dos extraterrestres foram destruídos, mas não suas almas, agora chamadas de Tethans, que foram coletadas por uma espécie de aspirador galáctico de almas e levadas para um colossal cinema, onde foram forçadas a assistir durante 36 dias a um filme tridimensional que lhes implantou falsas memórias à respeito de Deus, Jesus e o Diabo.
As pobres almas penadas, desencarnadas, e agora desmemoriadas, passaram então a vagar pela Terra reunindo-se em grupos de milhares e encarnando coletivamente aqui e acolá nos poucos corpos sobreviventes às explosões. Estes encostos grupais, conhecidos por Tethans corporais, estão por aí até hoje e, segundo os cientologistas, são os grandes responsáveis pelos problemas do homem moderno assim como por boa parte de nossas lembranças: Hubbard diz que nossos cinemas na verdade foram inconscientemente construídos à imagem e semelhança das salas de projeção utilizadas por Xenu na lavagem cerebral dos Tethans (é preciso reconhecer que poucas religiões têm respostas para questões tão específicas quanto a arquitetura das salas de cinema). Quanto a Xenu, os cientologistas acreditam que ele foi eventualmente derrotado pelas forças do bem e jaz aprisionado em uma montanha por um campo de força alimentado por uma bateria que dura para sempre.
Este Antigo Testamento cientológico você não vai encontrar no site oficial da Igreja da Cientologia. Os cientologistas somente têm contato com a história de Xenu quando atingem os mais altos níveis dentro da seita, em uma cerimônia secretíssima que acontece a bordo de um iate. Mas há alguns anos atrás a história vazou para a internet e daí para o Washington Post. A igreja reagiu e processou o jornal, não por falsidade ideológica, mas por violação de copyright, confirmando que a história era verdadeira.
Sempre que confrontados com a história de Xenu os cientologistas argumentam que seus ensinamentos foram tirados de contexto para fazê-los parecer rídiculos. Eu discordo. Se você pensar bem não há nada de especialmente ridículo na história de Xenu e dos Tethans, ou se há, outras religiões não parecem ter percebido. Eu poderia argumentar que a história de um ditador alienígena exterminando seu povo com armas de destruição em massa e submetendo-os à propaganda religiosa não é tão mais improvável que a maioria dos dogmas católicos, como a ascenção da virgem por exemplo. Mas tratando especificamente do cruzamento entre ficção científica e espiritualidade há exemplos tão extravagantes como os de Hubbard que vêm sendo divulgados há muito mais tempo sem um pingo de medo do rídiculo. E eu poderia nunca descobrir isso se, enquanto planejava este post, não tivesse me deparado com a seguinte manchete de capa da revista Universo Espírita deste mês:
Exilados de Capela.Graças a esta revista descobri que os espíritas também possuem sua própria mitologia criacionista alienígena e que esta é muito mais antiga que a da Cientologia. A saga sci-fi espírita está descrita em livros psicografados por médiuns, sendo o mais famoso deles o do espírito Emmanuel que escreveu em 1932 "O Caminho da Luz - A história da civilização à luz do espiritismo". Basicamente o que diz Emmanuel é que certa vez em uma galáxia muito, muito distante, alguns milhões de espíritos rebeldes foram vítimas de uma "ação de saneamento", ou seja, foram expulsos de seu planeta e exilados na Terra para "prosseguir sua evolução". Emmanuel escreveu:
Recentes descobertas científicas e informações mediúnicas comprovam a saga de espíritos banidos para a Terra.
"Aquelas entidades que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionar, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores"Se não estou enganado foi mais ou menos o que aconteceu quando Portugal esvaziou suas prisões enviando seus espíritos indesejados para as colônias brasileiras. Aliás deve ser este o motivo antropológico para os brasileiros se identificarem tanto com o espiritismo.
Continuando, Emmanuel nos conta que estes espíritos inconvenientes em seu mundo porém muito mais evoluídos que os primitivos terrestres, encarnaram na população branca do nosso planeta, dando origem a quatro grupos: as castas da Índia, os arianos, os antigos egípcios e os hebreus, estes o povo mais evoluído de todos -- tanto que criaram a primeira religião monoteísta do mundo, explica a revista. Junto com os capelianos vieram a ciência, a religião, a filosofia e as artes, e também suas paixões pela guerra, seu egoísmo e orgulho. Estes espíritos evoluídos, e brancos, deram início a grandes transformações nas civilizações antigas, o que a revista chama de "salto evolutivo que a ciência não explica", e povoaram os continentes perdidos de Atlântida e Lemúria.
Ambas as religiões (embora a cientologia não seja considerada oficialmente uma religião em alguns países e o espiritas reneguem o rótulo na maioria das vezes) buscam o credenciamento da ciência. Mas ambas erram o alvo: a cientologia só consegue ser uma space opera ruim, roteiro imaginário de um filme que seria ainda pior que um dos piores filmes de todos os tempos: justamente "A Reconquista" baseado em um romance de Hubbard e estrelado pelo cientólogo John Travolta. Já o espiritismo procura uma vaguinha na ciência e só encontra lugar na pseudoarqueologia datada dos livros de Erich Von Däniken.