Que %!#* está acontecendo na UNB?
O título do trabalho é "A Pseudociência na Universidade Brasileira". Confesso que quando decidi pelo tema estava um pouco preocupado de que talvez não houvesse tanta coisa assim que pudesse ser abordada. Na época, pelo que me lembro, eu e o Taschetto reunimos só uns três casos mais graves que mereciam ser citados: um flerte da Unifesp com o Design Inteligente, uma pesquisa científica que apontava para a eficácia da imposição de mãos no tratamento de camundongos e uma desastrada pesquisa sobre astrologia da UnB. Achei que isso seria pouco para um artigo internacional. Pois eu estava muito, muito enganado... Minha preocupação, que era reunir material suficiente para um modesto artigo, atualmente tem sido cortar excessos para fazer a apresentação caber nos vinte minutos que terei. Até o momento, a maior parte da apresentação concentra-se na estonteante situação da UnB.
Há alguns anos, em nome de uma tal "interdisciplinaridade" - buzzword do momento (que ultimamente tem feito disparar o meu detector de pseudociência) - a UnB criou o NEFP, Núcleo de Estudos de Fenômenos Paranormais. O que, a princípio, parecia uma idéia interessante, logo se revelou um verdadeiro cavalo de tróia, com o qual astrólogos, ufólogos e terapeutas holísticos têm assaltado a universidade.
Vejam por exemplo o professor Álvaro Luis Tronconi, PhD em física e membro do NEFP. Tronconi ministra na UnB o curso de extensão em “Ensaios Parapsíquicos”, onde ensina coisas como viagem astral, regressão a vidas passadas, chacras, interpretação de sonhos e retrocognição. No NEFP sua "linha de pesquisa", digamos assim, são os fenômenos mediúnicos. Tronconi estuda o famoso médium entortador de colheres Luiz Carlos Amorim. À imprensa Tronconi já declarou: “Queremos saber por que a força do pensamento desorganiza a configuração dos átomos dos metais e se ela pode ser identificada e calculada como se faz com a energia elétrica, que não conhecemos por inteiro, mas todos acreditam que existe e a usam”.
E lá se vai o ponteiro do meu pseudocienciômetro! É claro que há poucas coisas, se há alguma, que conhecemos por inteiro na ciência. Mas comparar a velha conhecida energia elétrica com uma suposta energia do pensamento que nunca foi sequer identificada é uma falácia sem tamanho.
Agora tente decifrar esta outra pérola de Tronconi: “Se podemos melhorar nossa oratória, também podemos dominar a bioenergia e usá-la para nos teletransportar ou curar doenças”. Um doce para quem conseguir inserir esta frase em um contexto aceitável.
Dia 13 de agosto começa na UNB o I Encontro Nacional de Astrologia. Um dos trabalhos apresentados intitula-se "Encontro com Médiuns Notáveis". É possível que para decidir o que é um médium "notável" os pesquisadores da UnB se baseiem na pesquisa conduzida pelo ex-coordenador no NEFP, o psicólogo Joston Miguel Silva. Joston estudou durante oito anos 13 pessoas que diziam possuir alguma habilidade paranormal, entre eles Amorim e Thomas Green Morton. Dos 13, o pesquisador da UnB confirmou as habilidades de cinco. Outros cinco tiveram seus poderes parcialmente comprovados e sobre os três restantes não houve nenhuma conclusão. A técnica de Joston para validar os paranormais? a kirliangrafia, em que se usa uma Máquina Kirlian para fotografar a aura do sujeito. (pausa para reajustar a escala do meu pseudocienciômetro).
Vamos esperar para ver. Estou particularmente ansioso pelo trabalho do atual coordenador do NEFP, Paulo Celso dos Reis Gomes. Paulo Celso fará a "Apresentação das Pesquisas Realizadas pelo NEFP". Considerando a produção científica do NEFP até o momento, será uma palestra bem curta, o que não deixa de ser uma boa notícia.